quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Carta de Frederico Bicalho

Meu nome é Frederico Bicalho Garcia. Moro na cidade de João Monlevade, onde nasci e trabalho como cirurgião geral no Hospital Margarida, único da cidade, há 10 anos.

Infelizmente, o que eu quero compartilhar com vocês é uma grande tristeza, frustração e sensação de impotência. Nesta época do ano, em que se somam aumento do trânsito na BR 381 (conhecida como “rodovia da morte” e que corta nossa cidade) e período de chuvas, recebemos diariamente em nosso Hospital dezenas de vítimas de acidentes da estrada. E, apesar do elevado número de tragédias, não conseguimos nos acostumar com elas. Mas quero deixar um alerta específico para os pais que viajam com crianças.

Esta semana tivemos 2 exemplos que nos marcaram. No dia 28 de dezembro atendi uma família que se envolveu em um acidente. Estavam no carro, pai, mãe e 3 crianças, uma delas bebê de colo. Esta criança viajava em sua cadeirinha, com cinto de segurança corretamente colocado, mas no momento do acidente a mãe havia tomado-a no colo para amamentar. Como resultado, a criança foi ejetada para fora do veículo, o que configura uma situação de grande risco e associado a alta mortalidade. No entanto, sofreu apenas leves hematomas e recebeu alta do Hospital 24h depois do acidente, em ótimas condições.

Acreditem ou não, 2 dias depois tivemos uma situação idêntica. Pai, mãe, 3 filhos, sendo um bebê de colo corretamente colocado da cadeirinha, que saiu apenas para amamentar ao peito da mãe, quando ocorreu o acidente. Toda a família foi encaminhada ao nosso Hospital, sem apresentar nenhuma lesão de maior gravidade, apenas pequenos arranhões e hematomas. Quando me chamaram para atendê-los, perguntei à mãe se ela sentia alguma dor, pois chorava muito, quando ela me disse que seu bebê havia morrido no acidente. Ao lado, uma menina de 9 anos, chorando continuamente por ter perdido um irmãozinho de 3 meses de vida. Que remédio eu poderia receitar para ela, para aliviar sua dor? Confesso que tive que me afastar do pronto soccoro por alguns instantes para aliviar as lágrimas que me vieram aos olhos. Tenho 2 filhas, uma delas da idade daquela menina e a outra com apenas 2 anos, e só conseguia pensar nelas e o que representam em minha vida. Acho que todos nós pensamos que não conseguimos viver sem nossos filhos, até que uma tragédia aconteça. Apenas Deus pode ser o remédio para aliviar o sofrimento daquela menina e sua família.

Então, imploro a todas as mães que, ao viajarem com suas crianças, utilizem todos os acessórios de segurança possíveis e todo o tempo. Se tiverem que retirá-las da cadeirinha por qualquer motivo, peçam ao pai para parar o carro. Serão perdidos apenas alguns minutos. Hoje uma família chora por não ter agido assim.

E se alguém importante em nosso país estiver lendo esta carta, saiba que apenas a duplicação da estrada é a solução para salvar muitas vidas que, certamente, continuarão a se perder nesta nossa atual realidade.

Obrigado pela atenção.

(Retirado do blog Dougshineon, publicado em 12/01/2011)

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